Carnes

Só mais um pedaço de carne
andando em meio a multidão
uma multidão feitas de carnes
que vagam em solidão.

e, correm pra cá e pra lá
em afã de encontrar sei-la o que ?
eu nem sei o que procuro
mas espero Deus aparecer

e se trombam carnes e carnes
pedaços de gentes que se vestem
carnes que usam saltos, batons
carnes que usam ternos, sapatos alemães

É, só carnes, que se dizem gente
bichos passeiam pelo interior
e fornicam nas vísceras
daqueles que se dizem doutor

mas são carnes, que andam
machucando calcanhar
correndo atrás de coisas
deixam a felicidade pra trás

carnes que um dia apodrecem
e os bichos consumirão até a paz
serão gritos, desesperos
e jogados agora a carne jaz

mas como carne vagueio
olhando o mundo sem entender
procuro até sorrisos naquelas carnes
que ainda não comecaram a apodrecer

vejo o sorriso das crianças
que com a carne das mãos seguram
em outra carne alimentando o coração
mas são carnes ainda pequenas, sorrindo.

e como carne que sou, vagueio
olho a todos sem entender nenhum
sou só este pedaço de carne
que passeio nas carnes da solidão

São multidões formadas
vieram de outros mundos eu nem sei
são todos estranhos esta gente
ninguém sorri e ninguém conhece ninguém.