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quarta-feira, julho 25, 2012

No Cemitério

Meio estranho ir a cemitério.
Nem gosto muito disso , mas a gente acaba indo por  carinho aos falecidos.
Tentei me lembrar quanto tempo fazia que não adentrava em um, e não consegui me lembrar.
Ontem acabei indo em um deles; primeiro olhei no Google como chegava a este cemitério e o google me explicou direitinho; só não me avisou que era a segunda saída da rodovia e sai ali naquele erro; paguei o pedágio e perguntei a atendente, que me informou que a saída era a próxima, me explicou para fazer a volta e cair na rodovia outra vez; quando dei a volta explicada por ela, nem vi mais a rodovia.
Por felicidade minha parou um taxista ao meu lado em um dos faróis, perguntei e me deu uma breve explicação e mandou segui-lo; o fiz. Em determinado momento que o caminho estava mais sossegado parou o carro e veio até meu carro e falou que na frente havia uma rotatória , que entraria na segunda entrada e que eu entrasse a terceira e fosse até o final e no final pegasse a esquerda e fosse até o final e que depois eu veria placas com o nome do cemitério, mas que eu estava muito longe.
Entrei na terceira entrada e fui.........rua que não acabava nunca, até achei que ele tinha me explicado errado; tornei a perguntar em uma oficina mecânica e me explicaram que continuasse na rua até o final e no final entrasse a esquerda e que teria placas indicativas e fui .......
No final entrei a esquerda e fui e fui e fui e fui...............aff que não tinha placas de nada, só de um cemitério local e não o que eu procurava, e fui e fui e fui.............fui........
Quando vi que eu estava no meio de nada resolvi perguntar de novo, e mandaram que eu fosse e fosse e fosse.
 Fui.........
Deus até vontade de desistir, mas era uma amiga muito querida e minha despedida em minha oração, a ultima visão dela de corpo.
Fui............
Segue sempre em frente, assim me falaram e fui.
Achei que estava meio perdida e resolvi perguntar novamente,  a moça me explicou que eu deveria ter entrado naquele entrocamento que ficou lá atrás, falei e agora, nem tem jeito de virar o carro nesta rua ?
Falou que eu seguisse em frente e que veria um farol e nesse, entrasse a esquerda e fosse embora que eu já veria placas do cemitério. E, fui, fui e fui; não acabava mais esta rua e farol, fiquei pensando porque colocariam um ali e fui atrás do semáforo dito pela moça.
Achei o danado do semáforo; entrei a esquerda e fui, fui e fui.............
Então vejo a placa do cemitério, já fiquei mais aliviada; quanta mata de todos lados, lugar bonito entre uma casa e outras, mas lugar sem infraestrutura então deve ser perigoso para quem mora naquela região e para quem vai ao cemitério.
Quase perdi a entrada do cemitério, porque tinha mais um entrocamento e a placa era super pequena, mas avistei o danado e entrei.
Quando falei onde ia para os amigos, disseram para tomar cuidado andando por ali e ver bem onde eu pararia o carro. Mas era minha despedida a amiga e fui assim mesmo e sozinha.
Na entrada do cemitério tinha um segurança anotando as placas de quem entrava, uma guarita, me aliviou um pouco.
Parei e fui ao necrotério, tinha umas cinco salas para velar mortos,passei na sala um, vazia; na sala dois tinha uma desencarnada, olhei , não reconheci ninguém e nem a morta, sai e fui olhando sala por sala e todas vazias.
Vi a filha de minha amiga lá fora conversando, fui abracei-a e perguntei onde estava o corpo de sua mãe e ela me mostrou a sala dois.
Voltei pra lá e vi bem minha amiga; embora não havia reconhecido,  mas vi então seus traços marcados pela doença e com aparência calma. Vi então que ela estava descansada do sofrimento da doença, e me lembrei quando Jesus diz : seus pecados estão perdoados; acho que ela sofreu com a doença para subir em paz.
Chorei, amava-a muito, chorei, amiga de longas datas. Fiz uma oração ali segurando em suas mãos e pedi aos amigos protetores que cuidassem dela levando-a para um lugar bom e agradeci os longos anos de amizade e a ajuda que nos dava em determinadas tarefas que tínhamos.
Chorei.
Sai dali e fui ao carro, assoar o nariz, chorar mais um pouquinho e fumar um cigarro e deixar meu celular desligado guardado no veículo; as pessoas tem que aprender a desligar celulares nestes lugares, porque a família ta sofrendo ,  mudar os toques então ou deixar no vibra .
Voltei ao necrotério, quando me aproximei tinha um rapaz de uns 20 e poucos anos no maior desespero gritando que não era para morrer, que não queria ficar ali que o levassem para casa, vi quando deram água para ele e um calmante. Então vi que na sala UM  tinha mais um morto, passei pela porta e fui ao encontro da sala dois, encontrei o ex marido de minha amiga que não o via desde a separação; uma pessoa que eu gostava (gosto) muito, mas separou e mudou para uma cidade do interior, cria cavalos em um pequeno sítio como me disse. Conversei um pouco e ele foi falar com a filha, que era única e que queria apoiar por causa do sofrimento da perda da mãe.
Sentei me em um dos bancos, fiquei escutando celulares tocando de todos lados, eram com toque de samba, outros aquela risadinha alta de criança, fiquei olhando e vendo que uns  riam, outros ficavam sem graça, mas a pessoa que o celular tocava nem estava ai, afinal não era ente seu mesmo que estava morto ali.
Não conhecia ninguém alem da filha, ex marido e marido atual. Me perguntava onde estarão os meus ex vizinhos que ainda era vizinhos da moribundo.
A mulher de meu lado no banco começou a conversar comigo, achei legal pois devia ter o mesmo apreço por ela , a moribundo; mas minha surpresa quando me perguntou se eu sabia do que o morto da sala Um havia morrido, falei que estava no velório da sala Dois; eu também ela respondeu, mas é que o caixão chegou lacrado e quando chega lacrado deve ser coisa ruim ou acidente feio; Respondi que não sabia e perguntei de onde ela conhecia minha amiga, assim troquei o assunto.
Entrei de novo para dar mais uma olhada na minha amiga, sai e comecei a conversar com seu ex marido, ele falou que o morto da sala um era um menino bem novinho, coitado !!
Sai de perto para procurar um banheiro, meus erros para chegar ali deu vontade de fazer xixi e não tinha ido ainda. Sai atras de um banheiro.
Retornando do banheiro parei e acendi um cigarro e pararam duas pessoas de meu lado um para fumar e o outro acompanhando e a conversa se seguiu sobre o morto da sala Um, falavam a respeito do que passara mal, e então o outro falou também né cara, com 18 anos morrer e assim na primeira prestação da moto, num acidente na 23 de Maio debaixo da Tutoia, é só tristeza mesmo, coitada da mãe que deu a moto pra ele, olharam pra mim e disseram que ele estava indo buscar a namorada no trabalho. tadinho !
O que mais falava deu tchau e disse que ia trabalhar e que voltaria mais tarde, foi embora; o que ficou olhou pra mim e disse: senta aqui um pouquinho. Sentei afinal tava acabando o cigarro, seria este tempo; quando   sentei, me arrependi ele cheirava a cachaça e não tinha tomado só uma dosinha de desespero pela morte do amigo não.
Perguntou se vi o morto, neguei com a cabeça, ai falei que estava no velório da sala Dois, me olhou falando que o menino era muito bonito e que todos gostavam dele no bairro, abanei a cabeça; olhou pra mim e disse : sabe, esta história ta mal contada, tem que assistir ao Datena para ver o que ele falará sobre isso. Olhei sem nada falar e ele disse : Dona, a moto não tem um arranhão e o menino tá todo quebrado, caixão lacrado, não acha que tem coisa errada Dona ?; Falei : mas o rapaz ai falou que todos gostam dele e você falou também !
-Mas tem coisa errada Dona, vou assistir o Datena hoje e a senhora assiste também, ai "nóis" vai ver a história certa; sabe Dona acho que ele morreu de tanta pancada, acho que bateram nele até a morte; Dona a moto não tem um arranhão, que acidente é esse  ?
Olhei para ele e falei que tinha que entrar porque iam fazer uma oração para minha amiga, me segurou um pouco ainda perguntando do que minha amiga morreu, dei uma leve explicação e sai dali.
Entrei na sala Dois e fiquei ali ao lado de minha amiga; avistei um ex vizinho meu e vizinho de minha amiga e fui para perto dele para saber ter alguém ao meu lado, perguntei se sabia voltar dali , falou que sabia então falei que o seguiria até me localizar no transito.
Durante a oração para minha amiga, escutei gritos e choros de outra sala; ao acabar a oração, saindo dali vi que tinha um morto na sala TRÊS, pessoas desesperadas, mas também nem me interessava o morto.
Fiquei feliz que fumei um cigarro sossegada sem ninguém vir falar nada dele.
O enterro estava marcado para as duas horas e resolvi esperar, estava com fome, e quando fui ao banheiro, vi uma lanchonete, fui ao carro pegar dinheiro, e vi que troquei de bolsa e não levei a carteira de dinheiro, pensei que não poderia pedir emprestado ali naquele lugar para pessoas que estavam já distante de mim por eu ter mudado de endereço; já começou a passar na minha cabeça se furasse um pneu na volta, para o pedágio, vi que teria ainda, pois era baratinho e tinha uns trocados na parte de fora da bolsa, quando paguei o primeiro, mas não daria para um lanche.
Fiquei com fome, com sede , havia tomado café as 6:30 da manhã. não tinha uma água na sala Dois, que a família põe para os visitantes, tinha um café, mas fiquei com medo de beber com estomago vazio e fazer mal.
Pior era a sede, resolvi perguntar para o ex vizinho se ele tinha uns trocos, tava durango, fiquei até chateada em pedir, mas poderia de repente ter e me emprestar.
O enterro eram as Quatorze Horas, pensei que as Quinze e Trinta estaria dentro de minha casa e comeria então.
Mas o enterro saiu as Quinze e Trinta horas, nem imagino o porque. Hora triste que todos choram , mas todos morreremos um dia.
Enquanto desciam a urna, todos cantavam uma música do Roberto Carlos, achei legal a homenagem, nem lembro da música agora, a filha chorava cantando que dava até dó e os filhinhos dela olhavam a mãe chorando e a vó descendo; será que estavam entendendo ? O marido atual chorava e o ex chorava muito também, afinal foram anos de convivência e que gerou a única filha .
Teve a jogadinha de terra no buraco e dois rapazes jogaram uma flor cada um , achei bonita a atitude do coveiro (nome feio a este profissional) que aguardou para continuar o trabalho.
Cemitério bonito, onde só ficam plaquinhas aparecendo e não aquelas coisas horríveis que estava acostumada a ver.
O ex vizinho falou que já ia embora que tinha um cliente ainda para atender, falei que me despediria da família e o seguiria. abracei a filha, abracei o ex marido , abracei o marido atual e fui dar um abraço na mãe que acabara de perder a filha.
Fui onde estava meu carro estacionado e o dele .
Parei para lavar minha mão, coisa que minha mãe sempre fazia ao sair de cemitério, nunca perguntei o porque; percebi então que eu fiquei com a mania.
Tinham duas pessoas sentadas ao lado da torneira e se assustaram com o barulho da torneira., Será que era um susto bobo ou porque estavam dentro do cemitério ?
Pedi desculpas por não ter cumprimentados os, assim saberiam que eu estava ligando a torneira.
A mulher sorriu e falou não tem problema não, e começou..........
- Eu vim aqui enterrar meu marido, ele tá lá na sala Tres , faz Onze anos que me separei dele, se eu levantar o vestido você verá uma queimadura horrível que tenho daqui até aqui, foi ele quem fez e separamos, nunca tive outro homem e este aqui do meu lado é meu filho e dele, mas não vou lá ver não, só vim aqui para ele saber que o perdoei e que até hoje eu amo ele, mas não vou ver ele não, não vi ele estes onze anos e não vai ser agora que vou ver não.
Olhei para ela e disse : bonito perdoar, fiquem bem e sai.
Entrei no carro, liguei meu celular e acendi um cigarro e vi meu amigo, ex vizinho lá com a mulher, vi que ela tava explicando do que morreu, falei comigo mesma: não tem jeito, a gente sai de cemitérios sempre sabendo do que todos mortos morreram.
Meu amigo ligou o carro e o segui, doida para me encontrar, me achar, poder tomar água em minha casa e comer alguma fruta que seja.
E pega a esquerda e vai e vai e vai e vai e vai, depois de muito vai e vai e vai, entrou em um entrocamento, mas viu que estava errado e jogou o carro de volta na mão que estava e dois carros se desviaram para não bater, porque eu fiz a mesma manobra que ele. Com a mão pediu desculpas e fomos e fomos e fomos e fomos.
Em um dado momento joga o carro na calçada e vem ao meu encontro dizendo, estamos no sentido errado, errei alguma coisa lá para trás; deixe eu perguntar e já volto.
E o dono de uma lojinha gesticula e explica e explica e explica; volta meu ex vizinho e amigo e diz que temos que retornar e entrar na rua do posto de gasolina e entra no carro e atravessa a avenida pondo a mão e parando todos carros, fiquei só olhando, achei que ele ia achar um retorno. Pelo meu lado o transito deu uma diminuída, eita lugarzinho movimentado este fim de mundo que eu estava; quando diminuiu entrei e um carro do lado oposto parou para eu entrar.
Segui-o, uma três vezes parou para perguntar, mas não erramos mais, já era mais fácil perguntar, em uma das vezes ele disse que não pagava pedágio não, porque sabia sair por dentro; pensei que poderia até ter comprado uma garrafinha de água com meus trocos, asa parar por ali...........de jeito nenhum.
O carro de meu amigo quebra no meio de uma avenida, deu sinal de negativo, carro pifado pra mim e veio falar comigo.
Me explicou como sair dali, que estávamos perto já, falei que ficaria com ele, mas disse que era um zinabre e que em instantes o carro pegaria e falou para que eu fosse embora que logo ele iria também.
Segui as indicações dele e fui, e fui e fui e fui..........
Mais adiante parecia que eu já conhecia onde estava, mas não quis me atrever, parei em um posto e perguntei , ninguém conhecia o local que eu queria ir, passou um transeunte e me viu pegando informações e explicou então. Segui suas orientações e fui e fui e fui..........
De repente vi que não sabia mais nada de novo e perguntei e me explicaram e fui, e me perdi e fui e me perdi; maldita hora que não comprei um GPS. Com muito custo cheguei a um lugar conhecido, dei até uma risadinha de alívio; tinha até esquecido de minha amiga lá naquele buraco, tanto era minha vontade de saber onde eu estava.
Cheguei em meu apartamento, ufa !!!
Comi uma fruta, não vi Datena coisa nenhuma e nem fiquei sabendo do que o da sala três morreu, ainda bem.
Quando falei de minha quilometragem do carro, riram de mim, andei 30 quilômetros a mais do necessário. Não importava, eu cheguei e pronto.
E, como minha mãe sempre fazia, tirei toda a roupa, e botei tudo na máquina de lavar e tomei um banho, lavando a cabeça e o corpo todinho.
Para que serve isso Hein ?

2 comentários:

  1. Cara Poetisa:
    "Apenas um ritual"

    Oliver Queen

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  2. o enterro em si ? lavar as mãos ao sair do cemitério ? e lavar toda roupa, e tomar banho qdo chega em casa ? saber do que morreram todos os mortos que estão no cemitério ? se perder ?
    faz mal não, sei-la, já me alimentei que estava necessitada. rs. abçs moço Oliver

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